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sexta-feira, 28 de março de 2014

Para quem gosta de vinhos, viajar tem um sabor especial.



Para quem gosta de vinhos, viajar tem um sabor  especial.
Aos roteiros tradicionais de viagem, somam-se  paradas obrigatórias nas regiões produtoras e suas  muitas vinícolas, além de restaurantes que combinam  culinária e vinho local.
E nem é preciso ir tão longe para vivenciar o vinho em  sua origem. Aqui mesmo, no Brasil, é possível  desfrutar de atividades enoturísticas desenvolvidas em  torno das regiões produtoras, com vinícolas  modernas, bons hotéis e restaurantes de culinária  típica.
Novas áreas produtoras como a Serra Catarinense e o  Vale do São Francisco já estão se estruturando para  receber os turistas amantes do vinho. Mas é na Serra  Gaúcha, a mais antiga e tradicional região produtora do  Brasil, onde se pode fazer um enoturismo completo.  Há muito o que conhecer nessa área de 6,9 mil  quilômetros quadrados e 31 municípios, tendo Bento  Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Farroupilha,  Monte Belo do Sul, Flores da Cunha, Nova Pádua e  Pinto Bandeira como as principais regiões produtoras.
Vale dos Vinhedos entre estações
No coração desta área está o Vale dos Vinhedos,  entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e  Monte Belo do Sul. É uma região de grande beleza e  com muito a ver e fazer.
Há quem diga que o Vale dos Vinhedos, primeira  Denominação de Origem do país (DOVV), é a  Toscana brasileira. A comparação causa orgulho, mas  na opinião desta que escreve, o Vale e toda a Serra  Gaúcha têm uma beleza única e especial.
A cada estação, a paisagem se transforma e encanta  por suas nuances particulares e pelo perfume  inesquecível de suas matas. No verão, época da  colheita, as cores são vibrantes, destacando o azul do  céu com o verde dos plátanos, das araucárias e dos  vinhedos. O outono pinta a paisagem com tons que  vão do amarelo ao vermelho. Enquanto as vinhas  descansam no inverno, o verde das matas se esconde  atrás da névoa da manhã, que às vezes se veste de  branco quando chega a neve. Mas é a primavera que  encanta com uma das mais belas paisagens, quando  as cores se intensificam, os vinhedos acordam e  brotam em vários tons de verde, e a serra toda fica  contornada por rosa e lilás com a floração das  hortênsias.
Mesa farta
Em cada uma das estações há sempre o calor de um  povo hospitaleiro a nos receber com mesa farta da  saborosa culinária local, bons vinhos ou uma cuia  quentinha de chimarrão.
A culinária é um dos traços fortes da região,  influenciada fortemente pela cultura italiana. Prepare- se para ganhar peso extra, pois a comida é irresistível.  Há ótimos restaurantes espalhados pelo vale, inclusive  dentro das vinícolas. Paradas obrigatórias são a  Trattoria Mamma Gema, o Valle Rústico, o Mamma  Lourdes na vinícola Dom Cândido, Maria Valduga e  Luiz Valduga, na Casa Valduga. Em muitos desses  restaurantes, você tem as opções à la carte, mas vale  pedir o menu completo, que começa com salada de  radicchio temperada com bacon frito e vinagre de  vinho; Depois, vem a sopa de anholine, como é  chamado o capeletti servido em caldo; Na sequência,  polenta, galeto, massas e carne, finalizando com a  sobremesa típica: sagu de vinho com creme.
Além dos restaurantes, vale uma parada nas queijarias,  onde os produtores locais de queijos vendem suas  pequenas produções artesanais, como a Queijaria  Valbrenta, que se orgulha em ser a menor do Rio  Grande do Sul. Uma de suas especialidades é o queijo  itálico ao vinho, produzido com leite integral maturado  imerso em vinho por uma semana e com mais uma  semana de secagem.
À taça
É claro que não faltam boas vinícolas para visitar e  provar bons vinhos. No Vale dos Vinhedos, há hoje  mais de 30 vinícolas de portas e garrafas abertas para  receber os visitantes. A maior delas é a Miolo, também  a maior do Brasil, com capacidade para produzir mais  de 12 milhões de litros ao ano.
Conhecer uma vinícola de grande porte é bem  interessante para acompanhar todos os processos de  uma produção de larga escala, mas nada como uma  visita a pequenos produtores familiares e vinícolas  boutique, onde tudo é mais artesanal e muitas vezes é  o próprio produtor que recebe os visitantes. Sem  perceber passam-se horas batendo papo, ouvindo  histórias do lugar e provando vinhos como se  estivesse na casa de amigos.
Pessoalmente, recomendo a Angheben, Pizzato, Lídio  Carraro, Larentis, Dom Cândido, Marco Luigi e  Vallontano, onde você pode dar uma parada para  retomar o fôlego no aconchegante Vallontano Café e  desfrutar de uma refeição leve acompanhada de vinho  ou mesmo um café com vista para os vinhedos.
Acredito que é nessas pequenas vinícolas que se  descobre uma genuína identidade do vinho brasileiro,  que é feito de tradição, história, saber fazer e muito  amor pela terra e pelo vinho.
Recuperando a energia
Os longos passeios e visitas requerem uma boa noite  de descanso para recuperar as energias e continuar a  jornada no dia seguinte. Hospedagem confortável e  hospitaleira você vai encontrar nos muitos hotéis da  região. Para quem gosta de mordomia e até mesmo  de tratamentos terapêuticos, a pedida é o Spa do  Vinho Caudalie. Com localização privilegiada em uma  parte elevada do vale, é imperdível passar um final de  tarde na ampla varanda do hotel acompanhado de uma  taça de vinho para apreciar a vista de 180o e um  inesquecível entardecer.
Pensando em uma hospedagem mais aconchegante e  intimista, a dica são as charmosas pousadas, como a  Borghetto Sant’anna, que encanta pela arquitetura  típica das casas de pedra basáltica construídas pelos  primeiros imigrantes italianos que chegaram à região.  São três casas e quatro suítes que oferecem  exclusividade, privacidade e integração com a  natureza. A vista dos quartos é de tirar o fôlego.
Outra opção aconchegante é a Ca’di Valle, instalada  em uma antiga cantina, que preserva a história e as  tradições dos italianos. Atendimento familiar, café da  manhã colonial com produtos caseiros, quartos  aconchegantes e muita natureza ao redor fazem o  visitante se sentir em casa.
Para quem dispõe de pouco tempo, mas faz questão  de ter uma vivência completa do Vale dos Vinhedos, a  dica é ir direto para a Casa Valduga, hoje transformada  em um complexo chamado Villa Valduga, que  congrega a vinícola de produção caprichada, os  restaurantes e cinco pousadas com 24 suítes que  levam os nomes das linhas de vinhos produzidos pela  vinícola. De janeiro a março, época da colheita, é  possível ainda participar de programas que incluem  colheita das uvas, fazer a pisa e, no final do dia, se  deliciar com um bom jantar acompanhado de vinho.
Para todos os gostos
Atividades festivas, culturais e até mesmo esportivas  também acontecem ao longo de todo o ano no Vale  dos Vinhedos. Colheita da uva, cursos de degustação  e eventos enogastronômicos oferecidos pelas  vinícolas e hotéis, concursos de vinhos, como a já  tradicional Avaliação Nacional de Vinhos que acontece  há 20 anos, apresentações artísticas e até mesmo  eventos esportivos como corridas e passeios  ciclísticos são algumas das atividades  complementares que você poderá desfrutar neste  lugar inesquecível.
Então, reúna a família e os amigos, amantes ou não do  vinho, e descubra esta que é uma das mais italianas  regiões fora da Itália