Para quem gosta de vinhos, viajar tem um sabor especial.
Aos roteiros tradicionais de viagem, somam-se paradas obrigatórias nas regiões produtoras e suas muitas vinícolas, além de restaurantes que combinam culinária e vinho local.
E nem é preciso ir tão longe para vivenciar o vinho em sua origem. Aqui mesmo, no Brasil, é possível desfrutar de atividades enoturísticas desenvolvidas em torno das regiões produtoras, com vinícolas modernas, bons hotéis e restaurantes de culinária típica.
Novas áreas produtoras como a Serra Catarinense e o Vale do São Francisco já estão se estruturando para receber os turistas amantes do vinho. Mas é na Serra Gaúcha, a mais antiga e tradicional região produtora do Brasil, onde se pode fazer um enoturismo completo. Há muito o que conhecer nessa área de 6,9 mil quilômetros quadrados e 31 municípios, tendo Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Farroupilha, Monte Belo do Sul, Flores da Cunha, Nova Pádua e Pinto Bandeira como as principais regiões produtoras.
Vale dos Vinhedos entre estações
No coração desta área está o Vale dos Vinhedos, entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. É uma região de grande beleza e com muito a ver e fazer.
Há quem diga que o Vale dos Vinhedos, primeira Denominação de Origem do país (DOVV), é a Toscana brasileira. A comparação causa orgulho, mas na opinião desta que escreve, o Vale e toda a Serra Gaúcha têm uma beleza única e especial.
A cada estação, a paisagem se transforma e encanta por suas nuances particulares e pelo perfume inesquecível de suas matas. No verão, época da colheita, as cores são vibrantes, destacando o azul do céu com o verde dos plátanos, das araucárias e dos vinhedos. O outono pinta a paisagem com tons que vão do amarelo ao vermelho. Enquanto as vinhas descansam no inverno, o verde das matas se esconde atrás da névoa da manhã, que às vezes se veste de branco quando chega a neve. Mas é a primavera que encanta com uma das mais belas paisagens, quando as cores se intensificam, os vinhedos acordam e brotam em vários tons de verde, e a serra toda fica contornada por rosa e lilás com a floração das hortênsias.
Mesa farta
Em cada uma das estações há sempre o calor de um povo hospitaleiro a nos receber com mesa farta da saborosa culinária local, bons vinhos ou uma cuia quentinha de chimarrão.
A culinária é um dos traços fortes da região, influenciada fortemente pela cultura italiana. Prepare- se para ganhar peso extra, pois a comida é irresistível. Há ótimos restaurantes espalhados pelo vale, inclusive dentro das vinícolas. Paradas obrigatórias são a Trattoria Mamma Gema, o Valle Rústico, o Mamma Lourdes na vinícola Dom Cândido, Maria Valduga e Luiz Valduga, na Casa Valduga. Em muitos desses restaurantes, você tem as opções à la carte, mas vale pedir o menu completo, que começa com salada de radicchio temperada com bacon frito e vinagre de vinho; Depois, vem a sopa de anholine, como é chamado o capeletti servido em caldo; Na sequência, polenta, galeto, massas e carne, finalizando com a sobremesa típica: sagu de vinho com creme.
Além dos restaurantes, vale uma parada nas queijarias, onde os produtores locais de queijos vendem suas pequenas produções artesanais, como a Queijaria Valbrenta, que se orgulha em ser a menor do Rio Grande do Sul. Uma de suas especialidades é o queijo itálico ao vinho, produzido com leite integral maturado imerso em vinho por uma semana e com mais uma semana de secagem.
À taça
É claro que não faltam boas vinícolas para visitar e provar bons vinhos. No Vale dos Vinhedos, há hoje mais de 30 vinícolas de portas e garrafas abertas para receber os visitantes. A maior delas é a Miolo, também a maior do Brasil, com capacidade para produzir mais de 12 milhões de litros ao ano.
Conhecer uma vinícola de grande porte é bem interessante para acompanhar todos os processos de uma produção de larga escala, mas nada como uma visita a pequenos produtores familiares e vinícolas boutique, onde tudo é mais artesanal e muitas vezes é o próprio produtor que recebe os visitantes. Sem perceber passam-se horas batendo papo, ouvindo histórias do lugar e provando vinhos como se estivesse na casa de amigos.
Pessoalmente, recomendo a Angheben, Pizzato, Lídio Carraro, Larentis, Dom Cândido, Marco Luigi e Vallontano, onde você pode dar uma parada para retomar o fôlego no aconchegante Vallontano Café e desfrutar de uma refeição leve acompanhada de vinho ou mesmo um café com vista para os vinhedos.
Acredito que é nessas pequenas vinícolas que se descobre uma genuína identidade do vinho brasileiro, que é feito de tradição, história, saber fazer e muito amor pela terra e pelo vinho.
Recuperando a energia
Os longos passeios e visitas requerem uma boa noite de descanso para recuperar as energias e continuar a jornada no dia seguinte. Hospedagem confortável e hospitaleira você vai encontrar nos muitos hotéis da região. Para quem gosta de mordomia e até mesmo de tratamentos terapêuticos, a pedida é o Spa do Vinho Caudalie. Com localização privilegiada em uma parte elevada do vale, é imperdível passar um final de tarde na ampla varanda do hotel acompanhado de uma taça de vinho para apreciar a vista de 180o e um inesquecível entardecer.
Pensando em uma hospedagem mais aconchegante e intimista, a dica são as charmosas pousadas, como a Borghetto Sant’anna, que encanta pela arquitetura típica das casas de pedra basáltica construídas pelos primeiros imigrantes italianos que chegaram à região. São três casas e quatro suítes que oferecem exclusividade, privacidade e integração com a natureza. A vista dos quartos é de tirar o fôlego.
Outra opção aconchegante é a Ca’di Valle, instalada em uma antiga cantina, que preserva a história e as tradições dos italianos. Atendimento familiar, café da manhã colonial com produtos caseiros, quartos aconchegantes e muita natureza ao redor fazem o visitante se sentir em casa.
Para quem dispõe de pouco tempo, mas faz questão de ter uma vivência completa do Vale dos Vinhedos, a dica é ir direto para a Casa Valduga, hoje transformada em um complexo chamado Villa Valduga, que congrega a vinícola de produção caprichada, os restaurantes e cinco pousadas com 24 suítes que levam os nomes das linhas de vinhos produzidos pela vinícola. De janeiro a março, época da colheita, é possível ainda participar de programas que incluem colheita das uvas, fazer a pisa e, no final do dia, se deliciar com um bom jantar acompanhado de vinho.
Para todos os gostos
Atividades festivas, culturais e até mesmo esportivas também acontecem ao longo de todo o ano no Vale dos Vinhedos. Colheita da uva, cursos de degustação e eventos enogastronômicos oferecidos pelas vinícolas e hotéis, concursos de vinhos, como a já tradicional Avaliação Nacional de Vinhos que acontece há 20 anos, apresentações artísticas e até mesmo eventos esportivos como corridas e passeios ciclísticos são algumas das atividades complementares que você poderá desfrutar neste lugar inesquecível.
Então, reúna a família e os amigos, amantes ou não do vinho, e descubra esta que é uma das mais italianas regiões fora da Itália